No Brasil, o Dia de Reis,
celebrado hoje (6), marca uma tradição centenária na cultura popular, que é a
passagem das folias pelas ruas, reunindo grupos de cantadores e instrumentistas
que entoam versos em homenagem aos três reis magos: Baltazar, Belchior e
Gaspar. Eles passam de casa em casa vestindo fardas e máscaras e performando
danças e cantorias com múltiplos instrumentos de corda, sanfonas e
percussão.
No calendário da fé
cristã, o 6 de janeiro marca o momento que esses três reis magos foram
visitar o recém-nascido Jesus Cristo, em Belém, cidade milenar localizada
atualmente na Palestina. Guiados por uma estrela, segundo o relato bíblico,
eles levaram ouro, mirra e incenso como presentes, simbolizando realeza,
imortalidade e espiritualidade. Essa data também conclui os festejos natalinos,
sendo o momento de desmontar as árvores e os enfeites de natal.
Em Minas Gerais, o
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) também celebra,
este ano, o quinto aniversário do reconhecimento das folias como Patrimônio
Cultural. Já são mais 1,6 mil grupos cadastrados em cerca de 400
municípios de todas as regiões. Em 2017, após um ano de pesquisa e
identificação por meio de cadastro virtual disponível no portal do Iepha, o
Conselho Estadual de Patrimônio Cultural de Minas Gerais aprovou por
unanimidade o registro das folias como patrimônio cultural de natureza
imaterial. As folias são manifestações culturais-religiosas cujos grupos se
estruturam a partir de sua devoção. Além dos Reis Magos, são cultuados o Divino
Espírito Santo, São Sebastião, São Benedito e Nossa Senhora da Conceição, em
períodos que não são necessariamente o de natal.
As folias são também
conhecidas como caravanas, charolas, ternos ou companhias. Elas consistem na
presença de cantadores, tocadores de instrumento, que saem pelas ruas, de
casa em casa, cantando louvores a um santo de devoção e recolhendo donativos
para ofertar aos mais necessitados ou cumprindo promessas que as pessoas fazem
aos seus santos. Alguns grupos contam com personagens, como reis, palhaços e
bastiões. Entre os instrumentos que conduzem os cantos, estão violas, violões,
cavaquinhos, pandeiros, caixas e sanfonas.
"As folias,
especialmente as folias de reis, estão em Minas Gerais desde o princípio da
formação do estado. Há registros de viajantes que estiveram por aqui, matérias
de jornais da época, mas sobretudo na memória oral desses grupos autorais.
Trata-se de uma prática religiosa, mas que tem sua importância cultural, uma
vez que eles estão presentes em todo o estado, como elemento formador da
identidade mineira", explica Débora Raiza, gerente de Patrimônio Cultural
Imaterial do Iepha.
"Para mim, o
significado maior de ser folião de Santo Reis é saber que nós representamos uma
história, que tem um significado, que vem desde lá quando o menino Jesus
nasceu, na Gruta de Belém, e foi saudado pelos três reis magos. É muito gostoso
quando a gente sai para as nossas caminhadas, partidas e bandeiras, porque ali
nós levamos a fé, o amor, a esperança, e mantemos acesa a chama que não deixa
essa cultura e a tradição se perderem", afirma Luís Fabiano dos Santos, o
Mestre Luís Fabiano, da folia de reis de Timóteo, no Vale do Aço, região leste
de Minas Gerais.
Professor de percussão da
rede pública de ensino, Luís Fabiano dirige um grupo de foliões na cidade
mineira, que tem organizado anualmente festejos em louvor aos reis magos. Com
a pandemia de covid-19, essa tradição vem sendo mantida, mas a partir de
outros formatos. "A pandemia não anulou a nossa fé, mas ela nos limitou de
muitas ações. Era pra gente estar fazendo as nossas peregrinações, visitando as
casas, as famílias, mas temos feito as atividades de forma virtual durante esse
período de pandemia", relata.
Além de Minas, as folias
são muito tradicionais em diferentes regiões do país, como em estados Nordeste,
além de Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo.
Tradição dos presépios
Como ação de salvaguarda
das folias de Minas, o Iepha promove desde 2016 o Circuito de Presépios e
Lapinhas. A edição de 2021 contou com mais de 500 presépios residenciais e
comunitários de 302 municípios de todas as regiões do estado. Tradicionalmente,
os presépios recebem visitas até 6 de janeiro, data em que se comemora o dia de
Santos Reis.
No Brasil, a tradição dos
presépios alcançou contornos próprios, mas influenciados pelos hábitos e
costumes europeus da representação da natividade, acompanhando as festas do
ciclo natalino e, em especial, as folias criadas em honra e devoção aos santos
Reis Magos. Contando com figuras de animais, pastores, casinhas, pequenas
conchas e plantas, a cena de um presépio varia de acordo com os costumes do
lugar.
Em Minas Gerais, segundo
o Iepha, o presépio está presente desde o século 18, com muitos desses montados
nos chamados oratórios-lapinha e maquinetas (caixas envidraçadas). Os
oratórios-lapinhas, típicos do estado e procedentes da região de Santa Luzia e
Sabará, geralmente acolhiam cenas ligadas à natividade de Jesus.
A tradição e arte dos
presépios no Brasil é repleta de elementos sincréticos e traz marcas da
regionalidade. Por causa disso, a Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP) criou
há mais de 48 anos o Concurso Nacional de Presépios, que tem por finalidade
estimular as experiências de criações contemporâneas e resgatar o sentido
poético do presépio na cultura brasileira.
Da Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário