A Promotoria de Justiça
de Cedral apresentou, em 23 de outubro, uma Denúncia contra a enfermeira Ana
Carolina Monteiro de França e o médico Marcos Alves Lemos. Os dois são acusados
pela morte de Lídia Sousa Moreira Velozo, em 11 de agosto, após parto realizado
no Hospital Nossa Senhora da Assunção.
A mulher deu entrada na
unidade de saúde por volta das 7h45, tendo sido acompanhada pela enfermeira Ana
Carolina de França. Após o parto, às 12h20, a mãe apresentava forte
sangramento, considerado normal pela profissional. Como a paciente não expeliu
naturalmente a placenta, a enfermeira realizou uma manobra para retirá-la,
denominada Jacob Dublin.
Às 15h15 há um registro
feito na Evolução de Enfermagem de que a paciente encontrava-se “sem queixas e
em estado clínico adequado”. Familiares de Lidia Velozo relataram, no entanto,
que ela se queixava de fraqueza, dor e afirmava estar delirando.
Somente às 16h15, após
nova avaliação que identificou um sangramento interno e a gravidade do caso,
foi determinada a transferência da paciente para Cururupu. Durante a
transferência, no entanto, Lídia Velozo faleceu, nas proximidades do município
de Mirinzal.
As investigações do
Ministério Público apontaram que, apesar de ter sido informado sobre a paciente
em trabalho de parto e ter ido à sala por diversas vezes, o médico Marcos Lemos
em momento nenhum interveio. Coube a ele somente a prescrição de medicamentos e
a determinação da transferência para outro hospital.
“O conjunto de ações e omissões dos denunciados tiveram como resultado a morte da paciente, de 24 anos, que deu entrada no Hospital Nossa Senhora da Assunção, em bom estado de saúde, para dar à luz o seu primeiro filho”, afirma, na Denúncia, o promotor de justiça Thiago de Oliveira Costa Pires.
“O conjunto de ações e omissões dos denunciados tiveram como resultado a morte da paciente, de 24 anos, que deu entrada no Hospital Nossa Senhora da Assunção, em bom estado de saúde, para dar à luz o seu primeiro filho”, afirma, na Denúncia, o promotor de justiça Thiago de Oliveira Costa Pires.
CAPACITAÇÃO
Ana Carolina de França não era profissional habilitada para a realização do parto que resultou na morte de Lídia Velozo. De acordo com a lei n° 7.498/86, que regulamenta a atividade de enfermagem, a um enfermeiro generalista, enquanto integrante da equipe de saúde, é permitido a execução de partos sem distocia, ou seja, qualquer problema materno ou fetal que dificulte ou impeça o parto. A identificação e atuação nesse tipo de caso cabe ao enfermeiro especialista em obstetrícia.
Ana Carolina
apresentou, no inquérito policial, diploma de graduação em enfermagem e uma
declaração de matrícula em pós-graduação em Enfermagem Obstétrica e Neonatal,
além do histórico escolar da pós-graduação. Ela não tinha, portanto, a
qualificação necessária para realizar este parto.
Procedimentos
realizados pela enfermeira, como a episiotomia, a episiorrafia e a dequitação
placentária, também são atribuições de enfermeiros especialistas. O primeiro
procedimento (um corte no canal de parto para facilitar a saída do bebê) é,
inclusive, desincentivado pela Organização Mundial da Saúde pois a literatura
médica o aponta como causa de maior dor, sangramento e complicações intra e
pós-operatórias.
A dequitação placentária, ou retirada da placenta que não é expelida de forma espontânea, também não poderia ter sido feita pela enfermeira generalista. O promotor de justiça aponta, na Denúncia, que a execução incorreta da manobra Jacob Dublin “é uma das causas para ocorrência de hemorragia pós-parto, causa da morte de Lídia”.
A dequitação placentária, ou retirada da placenta que não é expelida de forma espontânea, também não poderia ter sido feita pela enfermeira generalista. O promotor de justiça aponta, na Denúncia, que a execução incorreta da manobra Jacob Dublin “é uma das causas para ocorrência de hemorragia pós-parto, causa da morte de Lídia”.
“Lídia faleceu em consequência
de hemorragia pós-parto por atonia uterina. Seu útero, sem capacidade de
contração, não pôde reagir ao sangramento sofrido. Apesar de o sangramento ter
sido observado pelos presentes na sala, inclusive leigos, a profissional de
saúde Ana Carolina não identificou que se tratava de uma hemorragia”, observa
Thiago Pires.
OMISSÃO
O médico Marcos Alves
Lemos, plantonista em 11 de agosto de 2018, mesmo ciente da existência de
paciente em trabalho de parto, não integrou efetivamente a equipe de saúde do
caso. Caberia a ele avaliar a existência de dificuldades, o que desautorizaria
a enfermeira responsável de atuar no caso.
Em uma de suas
passagens pela sala de parto, o médico chegou a demonstrar preocupação com a
quantidade de sangue perdido pela paciente mas, mesmo assim, não tomou nenhuma
medida.
“É fato inafastável que o acusado omitiu-se de agir, talvez acreditando
na suposta expertise de Ana Carolina”, avalia o promotor de justiça.
Ana Carolina Monteiro
de França e Marcos Alves Lemos foram denunciados pelo crime de Homicídio
Culposo, cuja pena é de detenção de um a três anos. No caso, a pena pode ser
aumentada em um terço pois “o crime resulta de inobservância de regra técnica
de profissão, arte ou ofício”.
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