Uma pesquisa feita pela
Fundação Lemann em parceria com o Instituto Natura mostrou que 94% das crianças
e dos adolescentes tiveram alguma mudança de comportamento durante a pandemia.
Segundo os pais e responsáveis, 56% ganharam peso, 44% se sentiram tristes, 38%
ficaram com mais medo e 34% perderam o interesse pela escola.
A pesquisa “Onde e como
estão as crianças e adolescentes enquanto as escolas estão fechadas?” indicou
que entre os que ficam sozinhos em casa são mais altos os índices dos que
passaram a dormir mais, ficaram mais quietos ou têm mais dificuldades para dormir.
Quando avaliadas as
crianças e adolescentes de famílias com renda menor, até dois salários mínimos,
59% tiveram ganho de peso, 51% passaram a dormir mais, 48% ficaram mais
agitados, 46% ficaram mais tristes, e 35% perderam o interesse pela escola.
A pesquisa ouviu 1315
responsáveis por mais de 2,1 mil crianças e adolescentes (4 a 18 anos)
matriculados na rede pública ou fora da escola, de todo o Brasil, entre 16 de
junho e 7 de julho de 2021. O estudo também entrevistou 218 jovens entre 10 e
15 anos.
Comida
Quando avaliada a
segurança alimentar, 34% das famílias afirmaram que a quantidade de comida foi
menos que o suficiente, com destaque para as famílias do Nordeste (46%) e do
Sul (18%).
Entre os que relataram
insuficiência de alimentos, 63% são pretos e pardos, 63% das famílias ganham
até um salário mínimo e 66% afirmaram que alguém da casa perdeu o emprego ou
renda na pandemia.
A pesquisa também mostrou
que as refeições das crianças e adolescentes eram melhores antes da pandemia:
81% dos pais disseram que era ótima ou boa antes do surto de covid-19, índice
que caiu para 74%. Entre os que consideram a alimentação regular, a taxa
aumentou de 16% para 23%; e o ruim se manteve estável em 2%.
Mais tempo nos
eletrônicos
De acordo com a pesquisa,
10% das crianças e dos jovens passam o dia na casa de outras pessoas, metade
deles na residência dos avós. Dos 90% que ficam na casa de seus responsáveis
(pai, mãe, madrasta e/ou padrasto), 14% permanecem sozinhos no local ou apenas
com irmãos, sem adultos responsáveis.
A pesquisa também mostrou
que a rotina de atividades em casa mudou: 37% das crianças e adolescentes estão
jogando videogame ou celular com mais frequência do que antes da covid-19 e 43%
aumentaram as horas de TV.
Outro dado importante
mostrou que 6% dos jovens entre 7 e 18 anos estão trabalhando, sendo maior o
percentual entre os pretos (10%). Do total de jovens trabalhando, 60% começaram
em 2021 e 74% são meninos. A idade média é de 16 anos, sendo que 9% têm entre
11 e 14 anos, 68% entre 15 e 17 anos e 23% têm 18 anos.
Jovens
Entre as crianças e adolescentes entrevistados, 75% disseram que sentem falta das aulas presenciais ou de algum professor e 60% sentem falta do convívio social e dos amigos. Aqueles que acreditam que terão o futuro prejudicado devido à pandemia são 66%. Pelo menos 40% sonhavam com profissões antes da pandemia e agora esse percentual é de 37%. Para 17%, o principal sonho agora é o de que a pandemia acabe.
“Isso mostra o papel da
escola e desse ambiente na vida dessas crianças e adolescentes. Claro que é um
espaço de ampliação de repertório e aprendizagem, mas também é de convívio e
desenvolvimento pessoal, além de ser, para muitos, espaço de alimentação. Isso
coloca muita luz no papel da escola e do retorno presencial das aulas”, afirmou
a gerente do Instituto Natura, Maria Slemenson, que trata da articulação das
agendas prioritárias da educação.
A pesquisa mostrou que 3%
das crianças e adolescentes não estão matriculados na escola. Desses, 32%
afirmaram não estar na escola por conta da pandemia e outros 32% afirmaram não
encontrar vaga na rede pública de ensino. Além disso, 62% das crianças fora da
escola têm entre 4 e 6 anos. Os estudantes que estão fazendo as tarefas
recebidas são 92%, com 89% dos pais dizendo que acompanham as atividades feitas
pelas crianças e adolescentes na escola e nas aulas on-line.
“Nós, da Fundação Lemann,
acreditamos que a educação pública de qualidade muda a vida das pessoas e são
elas que podem transformar o nosso país. Desde o início da pandemia, estamos
trabalhando para apoiar as redes de ensino com estudos, dados, boas práticas e
orientações diversas para que cada rede possa retomar as aulas presenciais e
garantir que todas e todos possam aprender com qualidade, nas mais variadas
realidades do país", disse a coordenadora de projetos de Educação da
Fundação Lemann, Barbara Panseri.
"Sabemos do tamanho
das desigualdades de nosso país, sabemos que as crianças e adolescentes de
menor renda, do Nordeste e negros e negras, têm menor acesso à internet de
qualidade, e que o ensino remoto ampliou as desigualdades dos nossos alunos”,
completou Barbara.
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